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Morte na Nova Terra?

Como entender os versos de Isaías 65 que falam da Nova Terra?

Como entender os versos de Isaías 65 que falam da Nova Terra? Outra dúvida: Isaías 66:23 faz referência à lua nova. Na Nova Terra vai existir lua? Mércia Maria

Fotolia_75772236Existem basicamente dois tipos de profecias na Bíblia: (1) as “apocalípticas”, que abarcam eventos desde os dias do profeta até o fim do mundo e que têm apenas um cumprimento (por exemplo, a profecias de Daniel e de Apocalipse); e (2) as “clássicas”, que geralmente têm uma aplicação primária para os dias em que foram dadas e, em alguns casos, podem ter uma segunda aplicação, escatológica, para eventos relacionados com o fim do mundo. Isaías 65 é uma profecia do tipo “clássico” e tem duas aplicações:

1. Cumprimento para o antigo Israel, caso ele fosse fiel ao Senhor. Como sabemos que Isaías 65 teria um primeiro cumprimento para o antigo Israel, provavelmente após o retorno do cativeiro babilônico? A resposta é encontrada no verso 20 desse capítulo. Nele é dito que na nova Terra prometida por Deus haveria crianças, velhos, pessoas pecando e morte. Nada disso haverá na nova Terra escatológica, o lar dos remidos.

Deve-se entender que cada bênção mencionada em ­Isaías 65 corresponde ao reverso das maldições contidas no capítulo 28 do Deuteronômio. A promessa de “novos céus e nova Terra” (Is 65:17), ou seja, céus com abundantes chuvas e terra fértil e sem pragas, corresponde ao reverso da maldição de “céus de bronze” e “chuva de pó”, e terra infértil e cheia de pragas, como gafanhotos, mencionados em Deuteronômio 28:23, 24, 38-40. O ato de edificar casas e morar nelas e plantar vinhas e comer do fruto (Is 65:21) é o reverso da maldição de Deuteronômio 28:30: “Edificarás casa, porém não morarás nela; plantarás vinha, porém não a desfrutarás”. A promessa de filhos como a “posteridade bendita do Senhor” (Is 65:23) é o contrário da maldição de filhos sendo levados para o cativeiro (Dt 28:32, 53-57).

A cena de um lobo e um cordeiro pastando juntos e a de um leão comendo palha como o boi (Is 65:25) deve ser entendida como uma imagem ou figura de uma era pacífica em Israel e sem invasões de inimigos ferozes. Essa cena de animais pacíficos é o oposto da maldição contida em Levítico 26:22.

A verdade é que, caso o antigo Israel fosse fiel ao Senhor, todas essas boas promessas teriam se cumprido naquele tempo. Mas Israel falhou em obedecer aos mandamentos de Deus e acabou indo para o cativeiro assírio e o babilônico. E, mesmo após a volta do cativeiro babilônico, os judeus não foram tão fiéis como o Senhor desejava. Por causa disso, Deus não pôde cumprir suas promessas ao antigo Israel. Porém, vai cumpri-las para o novo Israel.

2. Cumprimento escatológico para o novo Israel, a igreja. Não sendo possível cumprir suas promessas feitas ao antigo Israel, Deus as cumprirá com a igreja, mas não em todos os detalhes. Na nova Terra se poderá edificar casas e nelas morar, plantar vinhas e comer dos frutos, mas não haverá crianças para morrer novas, nem pessoas idosas, nem pessoas morrendo com cem anos, nem gente pecando e sendo amaldiçoada (Is 65:20).

E o que dizer da celebração do sábado e da Festa da Lua Nova nessa nova Terra (Is 66:23)? Essa é uma daquelas promessas contidas em profecias “clássicas” e que têm dupla aplicação. Uma aplicação primária para o antigo Israel, a de que o povo teria paz o suficiente para celebrar suas festas e guardar o sábado; e outra aplicação para a igreja, que, uma vez salva, guardará o sábado na nova Terra escatológica e poderá comer do fruto da árvore da vida “de mês em mês” (cf. Ap 22:2), ou seja “de uma lua nova a outra”. Em Apocalipse 22:23 é dito que a cidade santa “não precisa nem do sol, nem da lua”, “pois o Cordeiro é sua lâmpada”. Não precisar é uma coisa; não existir é outra coisa. Na nova Terra escatológica, o Sol e a Lua continuarão a existir, mas, como a glória do Cordeiro ilumina a cidade santa, a luz emitida por esses dois astros será ofuscada pela luz divina. [Imagem: Fotolia]

OZEAS C. MOURA, doutor em Teologia Bíblica na área de Antigo Testamento, é professor no Unasp, campus Engenheiro Coelho (SP)

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