A importância da fé resiliente em momentos de perda
Pablo Canalis
Um ruído incomum foi ouvido. O vento soprava
forte, e a chuva começava a cair. Parecia uma tempestade de verão: intensa e pesada. No entanto, naquele dia, o barulho era diferente, pelo menos para Enzo, que se levantou do sofá de forma rápida e correu até a janela. Foi nesse momento que, subitamente, escutou o pai gritar: “Não acredito! É granizo! Vou perder a safra!”
Enquanto o pai manobrava o carro, a mãe, igualmente apavorada, correu aflita para colocar a caminhonete em um abrigo. Molhados e tomados pela angústia, os dois voltaram para casa. Permaneceram imóveis, encarando a tempestade pela janela com uma expressão de desespero e resignação. Aquele não havia sido um bom ano. A safra de uvas representava uma parte essencial do sustento financeiro daquela família de agricultores.
Enzo olhou para o pai e notou algo diferente: lágrimas deslizavam por seu rosto fatigado. O menino, já com dez anos, nunca o tinha visto chorar. Todos permaneceram em silêncio por alguns instantes. Depois, o pai limpou as lágrimas, deixou a sala e foi para o quarto. Intrigado, Enzo decidiu acompanhá-lo. Então, viu seu pai ajoelhado ao lado da cama, orando. O garoto entendeu e, desejando contribuir de alguma maneira, também se ajoelhou para orar em silêncio. A mãe, ao ver a cena, respirou fundo e se uniu aos dois em oração.
Aquela tempestade de granizo durou pouco, mas pareceu interminável. As pedras de gelo eram do tamanho de uma acerola. Após orarem por aproximadamente 20 minutos, levantaram-se para verificar o que havia ocorrido. Haviam perdido toda a plantação.
O FOCO NÃO DEVE SER O SOFRIMENTO, MAS NOSSA CONFIANÇA NO SENHOR
Enzo olhou para seu pai e questionou: “E agora, papai? Deus não ouviu nossas orações? Por que tudo foi perdido?” Com carinho, o homem respondeu: “Filho, o mais importante é confiar em Deus. É Ele quem nos mantém. Não são as uvas que nos sustentam. Já passei por momentos muito difíceis e aprendi que acreditar no Senhor não significa estar isento de problemas. Ter fé não é garantia de que não enfrentaremos sofrimento. Mesmo que tenhamos perdido essa safra, não deixaremos de confiar no Pai que está nos Céus.”
Enzo não se esqueceu daquela resposta plena de convicção. A família enfrentou um ano difícil. Para cumprir suas obrigações financeiras, tiveram que vender um carro. Porém, nada lhes faltou, e todas as despesas foram quitadas.
Confiar em Deus quando as coisas dão errado é um desafio! Às vezes, parece que a angústia prevalece, o medo nos conduz e a desesperança se apodera do futuro. No entanto, essa experiência ensinou a Enzo uma lição importante: ser resiliente e confiar no Senhor, independentemente das circunstâncias.
Como temos nos comportado nos momentos mais desafiadores da vida? Temos usado essas circunstâncias para depositar mais confiança em Deus, sem exigir resultados? Temos sido fortes no Senhor?
Vivemos em uma época na qual o adversário tenta nos persuadir de que Deus é obrigado a nos proteger de todo sofrimento. Inclusive, algumas vezes exigimos isso de maneira presunçosa. Contudo, o foco não deve ser o sofrimento, mas nossa confiança no Senhor. É preciso ter certeza: somos filhos de Deus e coerdeiros com Cristo. Se sofremos com Ele, um dia, com Ele, também seremos glorificados (cf. Rm 8:17). 
PABLO CANALIS é médico especialista em Psiquiatria, pós-graduado em Medicina da Família e Comunidade
(Artigo publicado na seção “Em Família” da Revista Adventista de setembro/2025)
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