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Nutrindo a missão

Superbom celebra 100 anos de história e promoção do estilo de vida saudável.

Superbom celebra 100 anos de história e promoção do estilo de vida saudável

Anselmo Cordeiro de Souza, Emily Kruger Bertazzo e Elder Hosokawa

Crédito: Superbom

Era a década de 1920. A cidade de São Paulo vivia uma efervescência motivada pela expansão industrial que pulsava no coração de uma metrópole em crescimento, então com cerca de 700 mil habitantes. Não muito distante, em uma colina, um dia aparentemente comum revelava um pequeno espetáculo: um riacho movimentava a roda d’água de um moinho recém-construído. A brisa que atravessava a vasta vegetação do sertão de Santo Amaro embalava um sonho sussurrado em oração por Adolpho Bergold.

Foi assim, em busca da direção divina para ampliar as oportunidades de formação de novos missionários, que surgiu a Superbom. Pela providência de Deus e pela dedicação de muitas pessoas, a instituição celebra, em 2025, um século de existência, marcado por momentos de abundância e de escassez, além de grandes milagres.

MISSÃO INTEGRADA

A matéria de capa da Revista Mensal de abril de 1918 trouxe um relato emocionante do pioneiro John Lipke sobre a implementação de “instalações industriais” no então Seminário Adventista. No português da época, ele registrou:

“Foram installados um moinho de milho, uma serra circular e uma serra de fita. Assim foi feito o começo do nosso desenvolvimento industrial, que é muito necessario para o progresso da escola, e que mais tarde, por meio das industrias, poderá ajudar aos alumnos desprovidos de meios” (p.1).

Juntamente com o preparo artesanal de suco de uva, a construção desse moinho, inaugurado em 1917, pode ser considerada o marco inicial da produção de alimentos no antigo Seminário Adventista. Há registros também da importante contribuição de John Boehm nas construções, nas atividades e no gerenciamento da fazenda, bem como no levantamento de recursos.

Desde os primórdios da instituição, havia uma visão convergente de princípios e valores, biblicamente fundamentados e orientados pelos escritos de Ellen White, que norteava as ações daqueles pioneiros. Assim, a formação educacional e a promoção de uma alimentação saudável e sustentável estavam diretamente ligadas à missão adventista. Em outras palavras, a busca por oferecer um ambiente favorável à restauração da imagem de Deus no ser humano, expressa nos cuidados com a educação e a saúde, estava integrada à missão de compartilhar o plano da redenção.

Os primórdios do que viria a ser a Superbom compreendem o período de 1917 a 1924. Entre 1919 e 1920, o pioneiro e colportor escocês André Gedrath tornou-se responsável pela fazenda e o departamento agroindustrial, cargo que ocupou até 1923, quando retornou ao ministério da colportagem.

Ainda nesse período, em 9 de dezembro de 1922, ocorreu a primeira formatura do Seminário Adventista. Entre os formandos estavam Adolpho Bergold e Alma Meyer, que foram convidados a permanecer na instituição: ela, como professora de matemática; ele, na área agrícola, vindo a se tornar, ao que tudo indica, gerente do setor em 1923.

RESPOSTA ÀS ORAÇÕES

Uma década após o lançamento da pedra fundamental do Seminário Adventista, já havia conquistas notáveis a celebrar. Em 1925, foi inaugurada a segunda construção, inteiramente dedicada à educação e, mais tarde, tombada como patrimônio histórico. Esse ano também marcou o início de uma nova visão para a produção de alimentos, pensada não apenas para o consumo interno, mas também para a comercialização do excedente agrícola na comunidade.

Surgiu, então, uma intencionalidade maior no desenvolvimento da cozinha e da área agroindustrial que, com o tempo, passou a atender também à comunidade externa. Na Revista Mensal de dezembro de 1926, Bergold enfatizou:

“No anno passado obtivemos 29.934 litros de leite. Do bananal colhemos 1.236 cachos de bananas. As abelhas nos deram 733 kilos de mel. Colhemos 982 abacaxis. Este anno até agora já colhemos 2.152 e esperamos colher no anno vindouro 5.000 e no futuro mais ainda. Além disto colhemos muitos outros produtos” (p. 4).

Assim, entre 1925 e 1935, a produção de alimentos na instituição de ensino ocorria em diversos setores: na padaria, no apiário, na horta, na vacaria e na casa de produção artesanal de suco de uva. Porém, ainda não havia uma marca específica consolidada, exceto pelo suco de uva Excelsior, cujo nome foi utilizado até 1935.

O período seguinte, de 1936 a 1945, marcou a formalização industrial da produção, com a constituição legal da empresa e o surgimento, bem como o registro, da marca Superbom.

Com isso, a indústria adventista de alimentos no Brasil ampliou sua influência, permitindo que muitas pessoas fossem alcançadas pela filosofia de saúde que promovemos. Em alguns lugares nos quais a mensagem talvez não tivesse chegado de outra forma, ela se fez presente por meio dos produtos alimentícios produzidos pelos adventistas.

RECORDAÇÕES SABOROSAS

A alimentação, além de ser essencial à subsistência, tem a capacidade de criar conexões emocionais e memórias. É o caso de Edgardo Max Wüttke, de 85 anos, filho de Amália Belz – neta do pioneiro Guilherme Belz –, que trabalhou na padaria do antigo Collegio Adventista na década de 1930. Ele lembra com carinho dos momentos em que sua mãe preparava os pratos para o pôr do sol de sexta-feira: “Ainda sinto o gosto do pão integral fresquinho com geleia. Era um espetáculo!” Décadas mais tarde, o pão integral da Superbom se tornou um dos produtos de ampla circulação na capital paulista.

A centenária Lídia Genske, esposa do pastor Siegfried Genske – diretor da Superbom no fim da década de 1960 –, ainda se recorda do que costumava dizer seu cunhado, comerciante: “A melhor mercadoria que entra nesse estabelecimento é da Superbom.”

Paulo Silveira, filho de um engenheiro que prestou serviços na Superbom por volta da década de 1970, conta que, quando tinha dez anos, o pai o levava às instalações da fábrica adventista. “Ele comprava produtos deliciosos que vinham em potinhos quadrados e, se não me engano, eram à base de soja. Meu pai também comprava frequentemente o mel e, é claro, o suco. Salsicha e carne vegetal, que eram novidades na época, sempre tínhamos em casa”, conta o professor da Faculdade de Medicina da USP.

A fisioterapeuta Izabel Oliveira ouviu falar da Superbom pela primeira vez durante sua infância em Maceió (AL), nos anos 1980. Ela se recorda de folhear a revista Vida e Saúde e se deparar com propagandas dos produtos da marca. Além disso, a Ceia do Senhor em sua igreja sempre contava com o suco de uva da Superbom.

Com a solidificação da marca e o lançamento de novos produtos no mercado, a Superbom tornou-se pioneira nacional na produção de alimentos naturais e orgânicos de alta qualidade. Ao longo de sua trajetória, a empresa incorporou inovações, tecnologias e desenvolveu novos produtos. A cada década que se somou à história dessa fábrica missionária, a variedade de alimentos se ampliou, incluindo proteínas vegetais, produtos refrigerados e diversas outras linhas.

O que permaneceu constante ao longo do tempo foi a conexão com a missão. Quando era aluno do Colégio Adventista Brasileiro (atual Unasp, campus São Paulo), Nevil Gorski, hoje com 101 anos, trabalhou no setor de expedição da produção do suco de uva. Segundo ele, “desde o princípio, existia uma preocupação de que a Superbom fosse um meio de alcançar pessoas com a mensagem do evangelho”.

Nessa mesma perspectiva, Hélio Serafino, de 102 anos, ex-aluno e professor do Colégio Adventista Brasileiro, ressalta a participação de líderes e colaboradores da Superbom no trabalho missionário e no plantio de igrejas: “Tive contato com Pirajá Dias Pinto, que foi diretor da Superbom no começo da década de 1960. Fizemos uma incursão evangelística muito grande, pois o entorno da empresa era visto como campo missionário.”

Outro aspecto interessante foi registrado no verso de uma foto, datada de dezembro do ano 2000, por uma promotora de vendas de Belo Horizonte (MG): “A maioria dos clientes que abordei lembrou com saudades do restaurante […] e daquela deliciosa comida vegetariana”. Nas décadas de 1970 e 1980, os restaurantes da Superbom ajudaram a tornar ainda mais conhecida a filosofia de saúde adventista.

Assim, esse ministério gerou frutos de diferentes maneiras. Os locais em que a Superbom atuou foram impactados, tanto pelos produtos alimentícios quanto pelo trabalho de seus colaboradores. Essa influência contribuiu, inclusive, para a consolidação de igrejas adventistas. Silvino Fantin, que trabalhou por quase 50 anos nas filiais da Superbom em Videira e Lebon Régis, em Santa Catarina, teve sua vida transformada nesse contexto. Após sua conversão, colaborou na construção da Igreja Adventista de Videira, onde, posteriormente, seu casamento foi realizado.

Celebrar um século de existência significa, portanto, reconhecer a bênção de Deus por trás de uma trajetória tão longeva e, ao mesmo tempo, renovar o compromisso com sua missão. Joel Distler, atual presidente da Superbom, enfatiza: “A história da Superbom mostra que a combinação de fé, comida e saúde possibilitou o surgimento de um projeto capaz de atravessar décadas. O futuro dependerá da fidelidade da instituição ao seu propósito, assim como de sua capacidade de inovar para continuar sendo relevante tanto para a Igreja Adventista quanto para a sociedade.”

CELEBRAÇÕES

Crédito: Superbom

Para celebrar a ocasião, a Superbom realizou a “Corrida Rumo aos 100 Anos”, reunindo colaboradores, familiares e membros da comunidade no dia 31 de agosto. Em setembro, a empresa também foi homenageada pela Câmara Municipal de São Paulo e pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, reconhecimento que destacou não apenas seu centenário, mas também seu pioneirismo na produção de alimentos saudáveis. As festividades foram encerradas em 13 de setembro, com um culto de gratidão.

Olhando para o futuro, a Superbom planeja transferir sua sede para Hortolândia (SP), com o objetivo de tornar as operações mais modernas, integradas e produtivas. Além disso, a filial de Lebon Régis (SC) receberá investimentos para ampliar e fortalecer suas atividades industriais.

O foco da instituição é seguir inovando em produtos saudáveis, preservando a integridade da mensagem bíblica que a sustenta há 100 anos e preparando pessoas para a breve volta de Jesus.

 SAIBA MAIS

Anselmo Cordeiro de Souza é pesquisador; Emily Kruger Bertazzo é coordenadora do Centro de Memória do Unasp, campus São Paulo; Elder Hosokawa é coordenador dos cursos de graduação a distância em Ciências Sociais, Geografia e História do Unasp

(Matéria publicada originalmente na Revista Adventista de outubro/2025)

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